terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Festas são as de Natal


Na quadra do Natal entra-se no ciclo dos doze dias solsticiais, com o expoente máximo das festividades mais autênticas: as festas dos rapazes, de Santo Estêvão, do Menino, do Ano Novo e dos Reis.

Estas festividades sucedem-se um pouco por todo o Nordeste Transmontano, cristalizando vidas de ritos ancestrais, apenas com algumas variantes de terra para terra. De facto, a comunidades rurais do Nordeste comungam vários traços, nomeadamente, os mascarados, os moços, um “rei” e dois “vassais”, os mordomos, os gaiteiros e ao tamborileiros; a participação da população; a associação e integração de rapazes no contexto festivo; a refeição colectiva; as provas de resistência física, a ronda ou visita aos moradores da aldeia, os peditórios e as ofertas ao santo; as sanções sociais: comédias e loas (são discursos satíricos, de crítica social, que têm por finalidade pôr a nu condutas individuais ou sociais) e a musculada galhofa. Durante este período, os rapazes solteiros dirigem a vida na aldeia.

A festa, com origem nos rituais pagãos do solstício de Inverno, celebra o início de um novo ciclo agrícola, com os dias que começam a ficar mais longos, e, para a rapaziada significa também a passagem para a idade adulta.

A festa começa logo de madrugada, com o gaiteiro que acorda toda a aldeia com a sua gaita-de-foles. Os mordomos, responsáveis pela organização da festa, percorrem as ruas visitando todos os vizinhos. Depois, aparecem os “Caretos”, criaturas estranhas vestindo trajes bizarros, com chocalhos e fitas penduradas, e exibindo máscaras diabólicas. Dançam, pulam, rodopiam e fazem uma enorme algazarra. Hoje tudo lhes é permitido e, por detrás da máscara, que lhes protege a identidade, cometem os maiores impropérios, assustam as criancinhas e atormentam todos os presentes, se bem que as raparigas são sempre os alvos preferidos. Só são carinhosos com os mais velhos. Sem qualquer cerimónia, invadem as casas onde roubam chouriços, morcelas, carnes de fumeiro, figos secos e pão para juntar à festa. Reunidas todas as iguarias, passa-se ao banquete arrojado.

“O esoterismo da cultura transmontana… as grandes fogueiras do Natal… o louvor ao Sol… o pagão da antiguidade e o cristão do Nascimento”Apesar das tradições de Natal em Trás-os-Montes se terem também adaptado aos tempos modernos, muitos outros símbolos da época natalícia se mantém ainda nesta região. Um exemplo disso são as “murras” ou as fogueiras de Natal.

A “murra” é um gigantesco canhoto de carvalho, castanho ou negrilho que arde noite fora no largo principal de algumas das aldeias trasmontanas e representa a coesão de uma comunidade rural, que festeja na rua o verdadeiro sentido do Natal.

Crianças, adolescentes, adultos e idosos convivem pela noite dentro à volta das fogueiras, consolados pelo calor das conversas e pela desmedida comida e bebida. Na verdade, só é feito um intervalo para assistir à “Missa do Galo” ao som da meia-noite.

Segundo Alexandre Parafita, em aldeias do concelho de Miranda do Douro, o empenho em arranjar um cepo enorme era tal, que chegava a haver fogueira para quatro dias.Por seu turno, no concelho de Mogadouro, o bocado que sobrasse da noite de Natal era feito em cavacos e vendido. Em Vinhais guardam-se os tições do Natal para todo o ano, pois, segundo a tradição, onde o fumo chegar não caem raios ou faíscas.

Em suma, as fogueiras de Natal são um dia único no ano, pois esquecem-se desavenças, as pessoas unem-se na procura de grandes troncos, rivalizam pela grandiosidade da fogueira com outras terras e apanham-se muitas bebedeiras, apreciadas pelas igrejas do dia seguinte.
Por:
Rui Estevinho

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